top of page

Saúde emocional em tempos de crise

26-07-2016  por Rogener Almeida Santos Costa

Você vive sua própria vida? É possível viver a vida de alguém? Será que tudo que  você faz  é o que realmente quer? Será que todas as pessoas responderiam a estas  perguntas do mesmo modo? Muitas vezes nem paramos para pensar porque fizemos determinadas escolhas e seguimos a onda. Nossa sociedade, fortemente marcada pela influência dos meios de comunicação e das redes sociais, facilmente nos conduz a nos perdemos nas tendências e nos conceitos dominantes.

Podemos viver alienados por anos ou por toda a vida. Muitos estão abrindo mão de uma vida autêntica, marcada por escolhas conscientes e consequentes, ou seja uma vida com a experiência da liberdade e da responsabilidade, seguindo os próprios valores e definindo os próprios critérios. A reação automática aos apelos de consumo presentes em todas as mídias alimentam o estresse e a ansiedade de muitas pessoas que perdem a noção dos próprios limites orçamentários, dominadas pela ânsia em aderir ao estilo de vida presente nas imagens projetadas no imaginário de todos.

Recentemente, uma adolescente do meu círculo de relacionamentos que não me encontrava há uns seis meses me pediu emprestado o celular para fazer uma ligação e ao terminar, delicadamente, me agradeceu e em seguida, olhou-me com espanto e disse: - Nossa!  Tia, você continua com o mesmo celular! Eu respondi: - esse aparelho está funcionando maravilhosamente, porque eu deveria trocá-lo? Ela prosseguiu: - a senhora não sabe? Já existem dois outros modelos mais novos. Continuei: Sei disso, a questão é que ele corresponde exatamente ao que preciso  sem falhas, por que mudaria? Só pra ter o novo pelo novo? Ela então refletiu um pouco e questionou ainda: a senhora não gosta do novo? Disse-lhe: - gosto e me sinto tentada, porém, consigo frear meu impulso consumista. Ela entre surpresa e compreensiva disse: você não gosta de ser consumista!? Esse diálogo me trouxe a uma reflexão recorrente sobre a influência que sofremos da publicidade e da propaganda que nos impõe necessidades, define  valores e por sua vez o  estilo de vida de uma grande parcela da população.

Somos muitas vezes acometidos de necessidades e interesses manipulados pela publicidade e sem percebermos desenvolvemos atitudes e hábitos para estar de acordo com as tendências de um mercado acelerado e voraz que a cada dia apresenta uma nova exigência. Nesse exemplo trago como personagem real uma adolescente, no entanto, isso ocorre com a grande maioria da população de todas as faixas etárias: descartar o que tem por algo mais novo que representa uma nova atitude, ou seja, seguir aderindo aos modelos externos irrefletidamente e inconsequentemente.

O interesse pelo novo, pela experimentação é saudável em qualquer idade e entre as crianças, adolescentes e jovens é uma predisposição que corresponde ao domínio da curiosidade, da extroversão e da liberdade para explorar o mundo que é, ainda, até certo ponto, novo para elas e, realmente, necessitam dessas experiências para irem formando seus repertórios de conhecimentos e amadurecendo, enquanto reconhecem o que efetivamente tem significado para si mesmos e o que é importante para os outros, aprendendo pelo ensaio e erro o valor  e as consequências das suas escolhas.

 

Em tempos de crise (ambiental, política e econômica)  como estamos, temos muitos motivos para repensarmos nosso estilo de vida e nos reposicionarmos frente aos apelos do consumismo alienante. Destaco no momento três: 1) cada um de nós têm o direito e o dever de ser sujeito de suas escolhas e viver autenticamente sua singularidade, recusando-se ao domínio absoluto da publicidade e propaganda, assumindo seus próprios valores e estilo de vida; 2) evitar alimentar a economia predatória que não considera os limites das fontes de matéria-prima, esgotando o potencial de restauração natural, colocando toda a humanidade em risco ambiental; 3) assumir a grande responsabilidade de cultivar a própria saúde emocional, evitando um de seus fatores de risco que é  o estresse provocado pelos desequilíbrios no orçamento pessoal ou familiar que desestabiliza e afeta fortemente a qualidade das relações.

Autora

Rogener Almeida
Psicóloga
Analista Existencial
Logoterapeuta
Doutoranda Psicologia Social

Assuntos

Blog - Logoterapia
bottom of page